11 de maio de 2009

Última parte do estudo Brasileiros de Montreal

Chegamos à parte final do estudo de Luís Carlos Lopes com Conclusões e Bibliografia. Acrescento o CV do autor.

Leia todas as partes do estudo logo abaixo. Mantenha o mouse sobre cada um dos links  para saber a abordagem de cada parte do estudo.


parte final 
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Conclusões
Os brasileiros de Montreal continuam sendo profundamente brasileiros. A força das culturas que portam se manifesta em várias ocasiões. A presença deles nessa cidade consiste em uma prova de suas capacidades imensas de resistência e de adaptação a situações nem sempre favoráveis. Desenvolvem uma solidariedade expressiva entre eles, certamente maior do que teriam no Brasil. Os preconceitos que nutrem, que não são poucos, não os impedem de ter algum contato com seus compatriotas. Quanto mais tempo estão afastados do Brasil, mais tem interesse em se aproximar dos demais membros do mesmo grupamento.
Infelizmente, apesar de alguns esforços heróicos de alguns membros da comunidade, eles ainda são muito desorganizados. Suas situações sócio-econômicas e o pouco tempo que estão no Canadá podem explicar suas dificuldades de agir coletivamente. Outros grupos de imigrantes têm até a representação política informal no país de adoção. O caminho dos brasileiros ainda será longo e difícil. Eles precisam de apoio dos demais imigrantes, dos quebequenses e do Brasil. É erro político abissal abandoná-los à própria sorte. Eles representam parte do Brasil do exterior. São fragmentos de nossa população, história e culturas. Por mais que possam desejar se transformar em membros de outra cultura, a grande maioria continuará com suas marcas de origem. Eles representam o modo brasileiro de ver a vida, a sensibilidade e a força de um país que foi considerado pelos colonizadores como um pedaço do paraíso.
O Canadá é um país que possui várias características admiráveis. Sua fama externa confere com o que se pode ver, lá vivendo. Todavia, tal como o Brasil, não é o paraíso. Por lá existem problemas, alguns bastante sérios. A questão da presença de milhares e milhares de imigrantes é um deles. É ingenuidade pensar que migrar significa a integração automática ao país escolhido e o compartilhamento da mesma vida dos que antes o habitavam. A sociedade canadense tem inúmeras divisões sociais e étnicas. Seu bilingüismo oficial não apagou as diferenças internas. Os imigrantes somam-se às dificuldades locais. São capítulos a mais dos problemas do país. É verdade, que são hoje os que pegam o trabalho pesado e têm o mérito de construir o país com o suor de seus rostos.
BM
Montreal é uma das cidades mais aprazíveis da face da Terra. Esquecendo-se os rigores de seu inverno e os problemas humanos que lá existem, trata-se de um lugar civilizado e com um elevado índice de desenvolvimento sociocultural. Entretanto, não se pode esquecer que os maiores beneficiários disto são os que a habitam há mais tempo, excluindo-se os ameríndios que fazem parte do subproletariado local. Os quebequenses francofônicos e anglofônicos estão nos melhores empregos e nas mais cobiçadas posições sociais. Os segundos costumam estar em uma situação superior aos primeiros. Os imigrantes italianos e portugueses, por exemplo, estão numa situação muito superior aos que chegaram mais recentemente, incluindo os brasileiros. Na estratificação social da cidade, as etnias estão colocadas em posições distintas, por mais que dentro de cada uma também existam distinções.
No futuro, talvez, a experiência dos brasileiros em lidar com diferenças étnicas possa servir a um modelo de sociedade mais inclusiva. Destacando-se o problema do preconceito racial, que o Brasil conhece bem, os imigrantes brasileiros têm o que ensinar em matéria de tolerância a costumes e crenças diversas. Neste sentido, um pouco do paraíso está na terra brasílica. Lamentavelmente, muitos dos seus filhos, por inúmeras razões, são tangidos a abandonar o país e a buscar o paraíso além de seu próprio torrão. Por outro lado, eles aprendem no Canadá que é possível a construção de sociedades com um nível maior de equidade social.
Imaginando-se um mundo globalizado, sem fronteiras e com culturas abertas a interinfluências, não há nada demais em se buscar outras plagas para viver. É um direito humano sair de onde se está, e procurar a felicidade mundo afora. Em teoria, isto funciona bem. Entretanto, sabe-se que na prática as fronteiras estão ainda bem delimitadas e as culturas humanas são nutridas por preconceitos e dificuldades de praticar a alteridade. É neste contexto, que os brasileiros vivem em Montreal.
 
 
Bibliografia
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© Luís Carlos Lopes 2008
Espéculo. Revista de estudios literarios. Universidad Complutense de Madrid
El URL de este documento es http://www.ucm.es/info/especulo/numero39/.html
O autor
Luís Carlos Lopes
possui graduação em história pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1978), mestrado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1984) e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (1992). Fez dois pós-doutorados no exterior: um em ciências da informação, na Universidade de Montreal (Canadá - 1997-1998) e outro em comunicação na Universidade Paris 1 (Sorbonne/França - 2003-2004). Atualmente é professor associado I da Universidade Federal Fluminense. Tem experiência nas áreas de História Contemporânea do Brasil, Ciências da Informação (arquivística), e, nos últimos 11 anos, em Comunicação, com ênfase em Teorias da Comunicação, atuando principalmente nos seguintes temas: ciências da comunicação, processos comunicacionais, comunicação pública, filosofia e comunicação e hermenêutica. Esteve, entre janeiro e dezembro de 2007, afastado em missão oficial no Canadá, na condição de Leitor de português ligado ao Consulado do Brasil e na Universidade de Quebec em Montreal, desenvolvendo atividades de ensino e pesquisa nas áreas de cultura brasileira e teorias da comunicação.
(Texto informado pelo autor)
Última atualização do currículo em 17/12/2008
Endereço para acessar este CV:

2 .:

Erika disse...

ola!!!
boa sorte pra vcs tb!!!
nos vemos em montreal!!!
hahaha...ja viu um casal aplicar pelo processo federal e que vai pra quebec??? nao? somos nos!!hauhauahauah
um bjao!! 8-)

Juba e Dea disse...

mmm... não! rsrsrs
Mas vocês com certeza fizeram uma ótima escolha! ;)
abração para vocês e a gente se vê então em Montreal 8-)

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