27 de abril de 2009

Brasileiros em Montreal (final do subtítulo)

Continuação do estudo:

IX

Brasileiros em Montreal (final deste subtítulo)

 

Luís Carlos Lopes

O país estimula a imigração vinda de algumas regiões do mundo. Aceita refugiados políticos de alguns países e vem manifestando suas preferências de origem dos seus imigrantes. O Brasil é, recentemente, um dos lugares escolhidos como celeiro de futuros habitantes do Canadá. O Ministério da Imigração do Quebec, no interesse da província, organiza campanhas de recrutamento no Brasil. Os meios de comunicação do Brasil e programas e vídeos veiculados pela Internet repercutem estas campanhas. Estas visam aumentar o número de brasileiros na mesma província.

 

Existem alguns meios conhecidos de migrar. O mais tradicional é o do pleito direto do interessado que preenche uma série de formulários, fornece vários documentos, paga várias taxas e tem seu caso examinado. Se aprovado o candidato à imigração fará os exames médicos conclusivos e, passando nos mesmos, receberá alguma ajuda nos primeiros meses de seu estabelecimento no país, sobretudo se tiver mulher e filhos para criar. Na cidade para onde foi, se for um grande centro, poderá fazer cursos de línguas e terá acesso ao sistema de saúde local, sem qualquer ônus. Conseguindo se estabelecer e se radicar por três anos, o imigrante ganhará o direito à nacionalidade canadense, algo muito especial, comparando-se com o caso norte-americano.

 

Os brasileiros de hoje são atraídos pelos serviços de imigração, através de farta propaganda, realização de reuniões de sensibilização feitas em algumas cidades brasileiras e de promessas de ajuda para os primeiros momentos de instalação. Estes esforços de atrair imigrantes concentram-se no sudeste e no sul do país, sendo possível identificar os padrões étnicos e sociais almejados. Tais esforços, somados aos problemas brasileiros, têm resultado no aumento apreciável do número de pessoas interessadas em viver no Canadá, em especial no Quebec. Entretanto, é em Toronto, em plena região anglofônica, que os brasileiros se concentram, por efeito de maiores possibilidades de emprego.

 

Os imigrantes brasileiros encontráveis no local hoje têm um traço social hegemônico. A grande maioria é branca ou mestiça clara, veio do sul e do sudeste, cursou ou estava cursando o nível superior e, no seu país natal, pertencia às classes médias. As exigências para chegar ao Canadá reduzem em muito quaisquer possibilidades de pessoas diferentes disto conseguirem ser aceitas. Quando eles são na origem de outras regiões do país, lá pertenciam a grupos sociais mais ricos e já tinham passagens pelo sudeste brasileiro. Quase todos são adultos, com exceção dos filhos menores, e chegaram ao país na faixa entre os 25 e 45 anos de idade.

 

A principal forma de entrada atual no país e de chegada em Montreal consiste no pedido oficial de imigração. Todavia, existe quem tenha chegado com o visto de estudante e depois, de dentro do país, solicitou a permanência definitiva. Alguns poucos fizeram seu pleito de imigração em outros países, onde residiam provisoriamente. Existem os que vieram como trabalhadores temporários e, no Canadá, pediram para ficar, bem como os que vieram como maridos e esposas de canadenses, tendo suas núpcias como o principal motivo da emigração do Brasil. Um ou outro usou de artifício distinto para ficar. A imigração, apesar de seguir regras de Estado, é uma operação privada e sujeita a acertos individuais. A geração mais antiga chegou ao país como exilada e alguns resolveram permanecer definitivamente.

 

Na verdade, migrar para o Quebec significa fazer uma dupla solicitação. A primeira para o Canadá e a segunda para a província ou vice-versa. O país é uma confederação. Entretanto, a província francofônica tem uma realidade muito especial, distinta das demais, sendo a única a ter ministério da imigração próprio. Quando o pedido é feito diretamente ao Quebec, o solicitante recebe um aceite local. Este terá que ser validado pelo governo central do país. Esse e outros fatos posicionam a província como um país, dentro do país. Os imigrantes são duplamente canadenses e quebequenses. Sob o ponto de vista legal e nacional, são, até agora [31], apenas canadenses. Definem-se comumente de um modo diverso. Curiosamente, os brasileiros e de outras origens acreditam-se muito mais como montrealenses, do que como quebequenses ou canadenses. O país deles é a cidade onde vivem, que os acolheu.

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A maioria dos brasileiros que vivem nesta nova realidade mantém algum tipo de laço com outros membros do mesmo grupamento. Reúnem-se episodicamente e procuram uma forma de se manter vinculados aos elementos cêntricos de suas culturas, tais como o carnaval, variadas expressões musicais, o futebol, a culinária e a especificidade do português falado no Brasil. Refundem tudo isto, a partir do olhar local. Este os faz entender suas raízes de modo distinto do que ocorria no seu país natal. Esse olhar seria a expressão da cultura dos brasileiros imigrados que resultaria numa forma de comunicação, isto é, numa parole bastante específica.

 

 

A parole dos brasileiros

Não é muito fácil capturar a parole dos brasileiros em Montreal. O grupamento não é muito organizado, seus canais de comunicação são intermitentes e pouco eficientes. Diferentemente de Toronto, os brasileiros de Montreal têm maiores dificuldades de se informar e de intercambiar experiências. Ainda não existe, na cidade, um periódico regular para a comunidade brasileira. Os que existem em português são para a comunidade portuguesa. No momento em que esta pesquisa estava sendo feita, tentava-se organizar uma escola brasileira para os filhos de imigrantes. Antes, houve uma que não conseguiu subsistir. Ao contrário da comunidade portuguesa, a brasileira ainda não obteve maior organicidade e penetração, nas tentativas de alguns de criar e manter instituições que estejam a serviço dos seus membros. Aliás, não raro, os brasileiros usam do aparato montado pelos lusitanos que estão em Montreal há muito tempo, em grande número e que alcançaram uma posição de maior relevo na sociedade local.

 

O grupamento brasileiro surge de sua relativa invisibilidade, com bastante garbo, nas cerimônias públicas, tais como festivais de música, de artes ou eventos desportivos, onde o Brasil esteja representado. Nesta ocasião, a bandeira verde-amarela chega a ser desfraldada, bem como as camisas amarelas, de nossa seleção de futebol, brilham nas ruas. Nesses eventos públicos, em festas e outras cerimônias privadas, é possível ouvir a batucada e o cantar alegre desses imigrantes. Quando juntos, os brasileiros se destacam pelo colorido de suas vestes e o hábito da terra de falar alto e abraçar ternamente os amigos, sem esquecer dos beijos na face entre as moças e os rapazes. (continua)

Nota: [31] Há, em curso, um projeto de lei criando uma ‘identidade’ quebequense.

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