Isso mesmo, aqui, os doidos, pirados, são tratados como pessoas (quase) "normais", com respeito; como todos devem ser. Não são excluídos da sociedade. Claro que os perigosos não ficam soltos. Mas os que não oferecem risco à população, ficam livres e em todos os lugares eles estão. Entre esses piradões, e aí os níveis são de levemente doidos a doidões de pedra, estão os que assim ficaram por causa das drogas, e estes não são poucos. E sim, existem aqueles que já nasceram com alguma desordem psiquiátrica ou a adquiriram por alguma outra razão.
Nunca vi tantos!
Ontem mesmo no metrô, tinha uma mulher piradíssima no modo de se vestir e de se portar. Não que as pessoas se vistam todas certinhas aqui. Não e não. Quem mora aqui sabe bem: cada um vive como quer e ninguém tem nada com isso. Ninguém mesmo ficará te olhando ou achando estranho se você resolver sair com uma melancia na cabeça, vestindo uniforme militar e cantando o Hino Nacional do Brasil em chinês.
Mas voltando ao assunto; deixando de lado então suas vestimentas, a pessoa em questão também carregava a fisionomia de muito drogada, além de mal conseguir parar em pé. Chegou pedindo informação sobre como ela fazia para ir em tal lugar e alguns, incluindo eu, realmente não sabiam, mas pensavam e diziam algo que pudesse ajudá-la. Ela virava-se, sentava-se, levantava-se. Postou-se rapidamente em pé, frente a uma senhora que estava sentada ao meu lado, e fez novamente a pergunta, enquanto tentava se manter ereta. Por fim, essa sabia e foi lhe dando as coordenadas. Depois de questionar e concordar, virou-se "tout à coup" e foi-se embora
Um outro de cabelo como quem tomou um choque de desenho animado, no shopping, vi desde longe, em cada mesa que se aproximava, dava um giro em volta de si, parava e dizia algo. Assim fazia até chegar a mim, que já estava com vontade de rir, mas me segurei. Isso presenciei no primeiro dia em Montreal. Tem aqueles que já são figuras carimbadas, como a de uma senhora que se veste com traje social, com direito a bolsa de mão. Discreta e com fala distinta, vive a pedir dinheiro. Mas nada, em nenhum desses casos, que te deixe incomodado ou acabe com o seu sossego, como diria alguns brasileiros. Como já disse, ninguém pára o que está fazendo para se escandalizar ou se incomodar com o outro. E estes, os que possuem algum problema mental, por sua vez, também não vão ficar te apurrinhando. Eles vivem relativamente tranquilos, pois não se sentem ameaçados. Mais fácil são os "normais" te encherem o saco.
Essas são algumas das muitas histórias diárias, absolutamente normais (sem aspas) por aqui. O que já me disseram, é que o mesmo direito que nós, imigrantes ou cidadãos canadenses temos de trabalhar aqui ou em qualquer outra cidade, eles tem de ir e vir. E ponto final. Eu aprovo. E você o que acha disso? Concorda ou sem corda?
"Se me apetece rir de um louco, não preciso de ir procurar muito longe; rio de mim mesmo."
Séneca